A Arte Existe Porque a Vida Não Basta


O que é arte? Qual o tipo de arte que “vale a pena”? É justo colocar dinheiro público na produção de arte? Essas têm sido perguntas muito frequentes nas timelines das redes sociais e em muitas discussões entre amigos. No meu entender, a principal característica da arte é emocionar. A arte mexe com a gente! Nem sempre da maneira que desejamos e é por isso, por sua capacidade de surpreender, que a arte é tão importante e existe desde que o ser humano começou a pintar as paredes das cavernas.

A música, as pinturas, as esculturas, a poesia, e todas as diferentes manifestações da arte não foram criadas somente para entretenimento. A arte provoca, incomoda. E o incômodo é o ponto de partida para a mudança. Não há mudança se estamos acomodados, estáveis. A mudança nasce quando emoções controversas tomam conta da nossa mente, do nosso coração. Mas não é simples lidar com essa torrente de emoções. Muitos preferem negar e buscar conforto na segurança dos sentimentos já vivenciados. Porém, em uma sociedade que busca inovação, a arte passa a ser fonte primária de inspiração para “sair da caixinha”.

Não é de hoje que as emoções provocadas pela arte tomam proporções assustadoras e geram reações apaixonadas. Michelângelo, um dos maiores artistas de todos os tempos, foi contratado para pintar o “Juízo Final”, na capela Sistina. Após o término do trabalho, várias personalidades consideraram os nus pintados inconvenientes. Assim, as “partes” mais ofensivas foram cobertas por um discípulo de Michelângelo. A arte tem um poder enorme de mobilizar sentimentos positivos e negativos e, em grande parte, isso é o que a torna tão importante.

Mas a arte não é somente gerar incômodo. A arte pode ser utilizada para trabalhar as emoções e sentimentos e gerar uma compreensão mais profunda de si mesmo. A arteterapia vem crescendo como campo de conhecimento e sendo utilizada para gerar mais consciência das emoções e transformá-las, quando necessário. Esse é o poder da arte! Por isso seu alcance deve ser ampliado e seu acesso facilitado a todos. Mesmo Michelângelo foi profundamente impactado ao observar o Torso de Belvedere, escultura grega de Apolônio (na imagem). Após admirar a obra, percebeu que as esculturas já existem na pedra bruta. O trabalho do escultor seria libertar a obra! Talvez esse seja o nosso trabalho, libertar a obra prima que temos dentro de nós mesmos das muitas amarras que nos prendem ao passado.

"O fim da arte inferior é agradar,
o fim da arte média é elevar,
o fim da arte superior é libertar"
Fernando Pessoa

(*) O título é uma frase do grande artista Ferreira Gullar.

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